Com o avanço das tecnologias agrícolas, irrigar lavouras deixou de ser um processo rudimentar e passou a incorporar sistemas inteligentes que economizam água e aumentam a produtividade. Pois, a mudança é bem-vinda num cenário em que ainda a agricultura responde por cerca de 72% de toda a água utilizada no Brasil, segundo dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Durante a Agrishow 2025, feira de inovação agrícola realizada em Ribeirão Preto (SP), diversas soluções foram apresentadas para enfrentar esse desafio: como produzir mais, com menos água?
Tecnologias como sensores de umidade no solo, sistemas de irrigação controlados por celular e o uso de inteligência artificial já conseguem reduzir o consumo de água em até 20% por safra. Assim, esses recursos garantem que a planta receba a quantidade exata de água que precisa, no momento certo, sem excessos.
Um dos destaques é a irrigação localizada, especialmente o sistema de gotejamento, que aplica a água direto na raiz. “Além de usar menos água, o método também reduz o uso de energia, fertilizantes e até de mão de obra”, explica Michele Gonçalves, diretora de marketing da Netafim Mercosur.
A telemetria, que permite o monitoramento remoto do uso da água, ajuda o produtor a entender onde cada gota está sendo aplicada — desde o ponto de captação até o solo. Segundo Helton Franco, CMO da Irricontrol, a tecnologia já está disponível inclusive para áreas pequenas, com retorno sobre o investimento (payback) em cerca de 10 meses.
“A gente mostra o caminho da água, do rio até a planta. Isso ajuda o produtor a tomar decisões com base em dados reais”, afirma Franco.
Os benefícios não param na economia de água. Em cultivos como a cana-de-açúcar, a irrigação pode dobrar a vida útil do canavial, passando de cinco para dez anos, com um salto na produtividade de 70 para até 125 toneladas por hectare, de acordo com Leandro Lance, diretor comercial da Rivulis.
Mesmo durante os incêndios que atingiram áreas de cana em 2024, produtores irrigantes conseguiram manter uma produção significativa. “Sem irrigação, os danos teriam sido muito maiores”, reforça Michele, da Netafim.
Na citricultura, a irrigação controlada também trouxe ganhos: a redução da temperatura das plantas em até 3ºC melhora a florada e a qualidade dos frutos, o que impacta diretamente na produtividade.
Para Vinicius Melo, diretor comercial da Valley, “a irrigação é a tecnologia que mais resultado traz, porque permite controlar um fator-chave da produção: a disponibilidade de água”.
Mais do que oferecer equipamentos de ponta, o setor também vem investindo pesado em capacitação técnica. Profissionais como o “pivozeiro” — operador de sistemas de irrigação — já são realidade em várias regiões. A ideia é garantir que até os pequenos produtores saibam como tirar o máximo das novas tecnologias para irrigação.
“Não adianta ter alta tecnologia se o produtor não souber usar. O foco precisa ser em soluções práticas, que tragam resultado desde o começo”, afirma Luiz Roque, co-CEO da Bauer América Latina e CEO da Irricontrol.
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